Retomada de eventos desafia a frase “todos os protocolos de segurança”
A retomada dos eventos de médio e grande porte tem desafiado uma frase um tanto surrada desta pandemia, a de que “serão cumpridos todos os protocolos de segurança sanitária”.
Na noite do penúltimo sábado (30), no Ginásio Poliesportivo de Venâncio Aires, um prédio fechado e com pouca ventilação, cerca de metade dos presentes retirou a máscara durante a festa de escolha das soberanas da Fenachim 2022.
Nas semanas anteriores, o governo local anunciava “todos os protocolos de segurança” para os três eventos que se avizinhavam, como aferição de temperatura na entrada do Parque do Chimarrão, carteira de vacinação e uso de máscaras.
Na última sexta-feira (5), o primeiro evento desde o início da pandemia no Teatro Univates, em Lajeado, também não tirou nota máxima no quesito “todos os protocolos de segurança”. A reportagem do Portal Significa contabilizou cerca de 20% das pessoas sem máscara no teatro fechado e sem ventilação cruzada. Os organizadores argumentam que o percentual foi menor, como você verá mais abaixo.
Independentemente do percentual, não foi possível identificar nenhuma orientação dos monitores para que os presentes recolocassem as máscaras. Na fila externa, a proteção já não era usada por uma pessoa a cada cinco, aproximadamente, apesar dos avisos espalhados pela universidade.
Uma das maiores festas da região nesta retomada, a Estrela Multifeira teve público total de mais de 50 mil pessoas. O cartão de divulgação nas redes sociais da festa diz “apresente seu comprovante de vacinação e use máscara”, mas o item de proteção foi personagem pra lá de coadjuvante neste domingo (7), último dia de evento.
O maior exemplo de que “todos os protocolos de segurança” estão apenas no papel é o esporte mais popular do Brasil. E como popular lembra populismo, políticos atrás de votos têm liberado cada vez mais público nos estádios, enquanto se vê cada vez menos torcedores de máscara.
No episódio da invasão dos vândalos do Grêmio ao campo de jogo, após a derrota para o Palmeiras, os torcedores marginais vieram do setor norte da Arena, liberado dias antes pelo governo do Estado, para que as torcidas organizadas pudessem se aglomerar, sem máscara, mas com “todos os protocolos de segurança”.
Em um país em que dezenas de leis e normas “não pegam”, é natural que as regras sanitárias também sejam descumpridas. O que não é tão natural é a frequência com que as autoridades ficam repetindo – para si mesmas, talvez – que vão fazer cumprir “todos os protocolos de segurança”.
Nesta retomada não tem ficado muito claro para as pessoas que ainda estão cumprindo os protocolos qual lugar é mais ou menos seguro frequentar. No Teatro Univates, por exemplo, tinha idosos na plateia e é provável que também houvesse integrantes de outros grupos de risco (para os quais a vacina tem menos eficácia) dentre as quase 700 pessoas. Eles não sabiam de antemão que a seu lado haveria alguém cantando sem máscara.
Palavra da Univates
A Univates lembrou que essa foi a primeira experiência com grande público em eventos culturais desde o início da pandemia e que, embora pudesse ocupar 937 dos 1.163 lugares do teatro na noite de sexta-feira, preferiu limitar a 700 pessoas, todas com a vacinação contra a covid em dia. A universidade destacou que precisou barrar a entrada de pessoas que tentaram acessar o teatro sem registro de vacinação na noite de sexta-feira.
“A Univates optou por proporcionar a venda de ingressos de duas formas: por agrupamentos de duas pessoas ou ingressos individuais, respeitou com rigidez a venda de bilhetes para o distanciamento mínimo de 1 metro entre as pessoas, o que levou a uma capacidade de 700 pessoas na plateia, com público efetivo de cerca de 660 pessoas no dia do evento. Ou seja, cerca de 270 pessoas a menos do que o permitido estiveram no Teatro acompanhando o show”, afirmou a instituição.
Apesar de não haver previsão em decreto, a Univates optou por ter 1 monitor para cada 43 pessoas presentes. “Também convém ressaltar que o Teatro Univates conta com um sistema de renovação de 100% do ar”, justificou.
A instituição não negou que pessoas tenham ficado sem máscaras no teatro e lamentou o ocorrido. “Apesar de todas as orientações e da ampla divulgação desde o início da pandemia sobre a importância do uso de máscaras e de isso ser previsto no decreto estadual como responsabilidade individual dos presentes, lamentamos que tenha havido a incidência de pessoas sem o uso de máscara”, respondeu a Univates, por meio de nota.
A instituição afirmou que fez uma apuração, analisando registros fotográficos do público, e considerou que a proporção de pessoas sem máscara foi “bem menor do que a indicada na pergunta”. Em uma das questões enviadas pela reportagem, foi considerada a proporção de uma pessoa sem o item de proteção a cada cinco presentes.
Para os próximos eventos, “além do que já foi amplamente divulgado no site de venda de ingressos, na sinalização do espaço físico, nas redes sociais do teatro e no início do evento, vamos orientar adicionalmente para que as pessoas cheguem com antecedência para evitar filas, além de reforçar a importância do uso de máscaras nos canais disponíveis, conforme prevê o decreto”, finalizou a instituição.
Palavra da Amvarp
Coube à Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), por meio dos prefeitos que a integram, decidir sobre a liberação de grandes eventos na região, como a Oktoberfest e as três atrações do fim de outubro em Venâncio Aires – escolha das soberanas da Fenachim, Feira do Livro e Festival Gastronômico.
Questionada sobre os protocolos descumpridos no Ginásio Poliesportivo de Venâncio Aires, a entidade respondeu que não possui competência para fiscalizar ou “repreender” os municípios associados e que, após a autorização do evento em assembleia da Amvarp, as medidas de fiscalização competem ao respectivo município e aos órgãos responsáveis.
Quando questionada se é a favor ou contra o uso de máscaras em locais fechados, a Amvarp reforçou que o uso de máscaras é obrigatório, conforme previsto na Lei Federal 14.019. “Assim, a obrigatoriedade do uso de máscaras decorre de lei federal, e não da “vontade” do Poder Executivo dos Estados, dos prefeitos ou da Amvarp. Ainda, o uso da máscara é ratificado pelos protocolos obrigatórios, os quais a Amvarp segue na íntegra”, ressaltou a associação regional de prefeituras.
Palavra das prefeituras
A prefeitura de Venâncio Aires foi questionada em três momentos diferentes sobre os protocolos sanitários na festa de escolha das soberanas da Fenachim, mas não respondeu. O governo de Estrela foi questionado uma vez sobre a Multifeira e também não respondeu.