Prisão de vigilante mostra que qualquer inocente pode ir para a cadeia

📸 Canva/ilustrativa
A história a seguir mostra que qualquer cidadão pode ser preso injustamente se tiver o azar de, ao mesmo tempo, ter seus dados pessoais ou cibernéticos utilizados por criminosos e passar por uma investigação policial frágil e apressada.
Luiz Fabiano da Silva, de 49 anos, morador de Novo Hamburgo e vigilante, foi solto nesse sábado (10), após passar uma semana preso preventivamente numa cela coletiva em Porto Alegre.
Ele era investigado por suposta participação em um plano de ataque a bomba contra o show da cantora Lady Gaga, ocorrido no dia 3, em Copacabana, no Rio de Janeiro. As investigações, no entanto, indicam que Luiz Fabiano teve sua internet clonada e não participou do complô.
A suspeita recaiu sobre Luiz Fabiano após a polícia do Rio identificar um IP (endereço de identificação cibernética) vinculado a ele nas conversas sobre o ataque, ocorridas na plataforma Discord. Apuração posterior revelou que o verdadeiro mentor do plano estava localizado no Rio de Janeiro e teria clonado o IP do celular do vigilante. Esse suspeito também foi preso.
Luiz Fabiano foi detido inicialmente quando a polícia cumpriu mandado de busca em sua casa e encontrou três armas, incluindo um revólver calibre .22 com numeração raspada. Ele foi preso em flagrante e libertado após pagar fiança.
Dois dias depois, teve a prisão preventiva decretada com base na gravidade das investigações e foi encaminhado ao Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional, em Porto Alegre.
Perderam as roupas
A decisão de soltura foi assinada à 1h43 desse sábado pelo juiz Jaime Freitas da Silva, plantonista em Porto Alegre. O magistrado considerou o caso urgente.
Luiz Fabiano deixou o presídio horas depois, vestindo uma camiseta de empresa de segurança, pois suas roupas haviam sido extraviadas no caótico sistema prisional gaúcho, em que presos morrem sob a custódia do Estado, alguns deles antes de serem julgados.
Esconderijo digital
O advogado Michel França, especialista em crimes cibernéticos, explicou que o Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, identificou e-mails e IPs dos usuários da plataforma Discord que discutiam o ataque. O mentor teria usado cinco IPs diferentes, todos do mesmo provedor de internet, possivelmente para ocultar sua localização. Um desses IPs foi o de Luiz Fabiano.
Apesar da soltura, o processo judicial contra Luiz Fabiano continua em andamento, até que se conclua oficialmente que ele foi vítima de um ataque cibernético. O celular do vigilante ainda não foi devolvido, e ele segue utilizando um aparelho provisório.
“Sou inocente. Nem computador eu tenho”, garantiu o vigilante, em entrevista ao jornal Zero Hora.
ℹ️ Zero Hora