"Como vamos viver assim?"

O relato dramático da comerciante que perdeu tudo para a água

Redação

Publicado terça-feira, 18/02/2025, às 19:17

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📸 Arquivo pessoal

No último sábado (15), uma chuva intensa acompanhada de fortes rajadas de vento causou alagamentos em diversos bairros de Venâncio Aires, deixando um rastro de destruição em comércios e residências. As ruas se transformaram em rios, e a água parecia ignorar a presença de bueiros, que em muitos casos, em vez de drenarem a enxurrada, devolviam a água para a superfície.

O caos foi ainda mais intenso dentro das casas e estabelecimentos comerciais, onde moradores e comerciantes viram, em questão de minutos, seus bens serem perdidos pela força da água.

Entre os atingidos, está Manuella Schmitz, proprietária de uma confeitaria localizada na rua Visconde do Rio Branco, esquina com a Reinaldo Schmaedcke, no Centro. Ela relata o drama de enfrentar duas enchentes em menos de um ano.

“Não faz um ano que nós alugamos a sala. Na primeira cheia, de maio, entrou água na nossa confeitaria, e nem tínhamos inaugurado ainda. Tivemos alguns estragos, mas não tínhamos tanto estoque, não tínhamos tantos móveis também, e deu tempo de colocar as coisas para cima, pois foi uma cheia do rio. Mas tivemos prejuízos com a pintura e prejuízo com os móveis que já estavam lá. Não ganhamos nenhuma indenização da prefeitura pois, segundo eles, não estamos em um local de risco”, lamenta Manuella.

A empresária conta que, dessa vez, o alagamento ocorreu por falhas na drenagem da cidade. “Foi um alagamento porque os bueiros, galerias, estão entupidos. Foram minutos. Eu tinha acabado de sair da confeitaria quando a chuva começou. Voltei correndo e já não dava mais para passar. A nossa rua principal, Osvaldo Aranha, estava tomada pela água, quase não conseguimos passar. Quando vimos, já era tarde demais. Não tinha como passar, não tinha como chegar, não tinha como pôr móveis para cima”, explica.

Bueiros entupidos

Manuella conseguiu retornar ao local apenas quando a água começou a baixar, mas os estragos já eram grandes, totais. “Peguei um rodo e comecei a tentar desentupir os bueiros para a água ir embora. Tiramos pedaços de cepos de madeira de dentro do bueiro que até agora não sabemos como entrou. A água era tão suja, tão nojenta, que eu me coçava toda, era barata por todo canto, mas coloquei minha mão naquela água imunda para tentar dar vazão”, relembra.

Os prejuízos foram enormes. “Nossa geladeira, com a força da água, caiu e amassou toda a parte de cima. Todo nosso estoque foi embora, pois não podemos usar nada que teve contato com a água, e o que estava na geladeira no momento em que ela caiu, caiu para fora, pois as portas se abriram. Cake board que usamos para os nossos bolos foram embora. Não podemos aproveitar pois teve contato com a água. Nossa pintura foi danificada, nossos móveis em MDF, nossos móveis em madeira…”, enumera a empresária.

A incerteza sobre o futuro e a falta de apoio das autoridades são algumas das principais preocupações de Manuella. “Duas cheias em menos de um ano. Até agora não sabemos como vamos nos reerguer, já que temos que pagar aluguel, água, luz e comprar todo nosso estoque. Empreender, e ainda mais sendo iniciante na área, não é fácil, imagine ter que recomeçar duas vezes”, desabafa.

Foto: arquivo pessoal

Limpeza? Aqui não

A empresária também relata sua indignação com a gestão municipal. “Ontem [segunda-feira, 17], fui em reuniões na Câmara de Vereadores. Nosso secretário de Obras disse que a prefeitura limpou as bocas de lobo. Não sei onde foi, mas na frente da minha loja não vi ninguém em meses desde a última enchente. Além de serem vidas, são negócios, empreendimentos que trazem dinheiro para nossa cidade, que fazem a nossa cidade crescer, e nossos governantes não estão nem aí para nós. Esse é o tipo de gente que está lá para lutar por nós e pelos nossos direitos como civis”, critica.

A incerteza persiste para comerciantes como Manuella, que ainda tentam avaliar os danos e encontrar uma forma de seguir em frente. “O prejuízo ainda é incalculável. Deveríamos ter voltado a trabalhar ontem [segunda-feira], mas, como tínhamos previsão de alagamentos, ficamos com medo. Como vamos viver assim?”, questiona.

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