Cigarro eletrônico

Izaura é convidada a defender legalização de cigarro eletrônico

Redação

Publicado terça-feira, 06/02/2024, às 09:33

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📸 Ministério da Saúde/arquivo

Imprensa e prefeitos da região do Vale do Rio Pardo foram convidados para uma “mobilização” sobre a consulta pública da Anvisa a respeito dos cigarros eletrônicos. O encontro foi promovido pela prefeita de Santa Cruz do Sul, Helena Hermany (PP), na manhã da última sexta-feira (2). Na reunião ficou claro que se tratava de um lobby a favor da legalização destes polêmicos dispositivos para fumar.

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Depois do encontro, a assessoria de imprensa do governo de Santa Cruz, ao tratar do tema, enviou longo texto em defesa da liberação do cigarro eletrônico, além de vídeos e links.

Izaura Landim (MDB), enfermeira de formação e prefeita em exercício de Venâncio Aires no dia do lobby, esteve no encontro promovido por Helena, mas até a manhã desta terça-feira (6), a assessoria de imprensa municipal não divulgou absolutamente nada a respeito. A foto abaixo é de Izaura discursando no dia da “mobilização” – palavra utilizada pelo governo santa-cruzense.

📸 Gov. SCS

30 milhões de consumidores

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) propõe manter no Brasil a proibição dos dispositivos eletrônicos para fumar – cigarros eletrônicos – e está com uma consulta pública a respeito do assunto em seu portal. A consulta ficará disponível até esta sexta-feira (9).

Helena Hermany, ao contrário, defende a regulamentação da produção nacional dos cigarros eletrônicos como forma de “promover a cultura do tabaco em âmbito nacional.”

Com o cerco se fechando ao cigarro tradicional nos países mais desenvolvidos, a chegada dos dispositivos eletrônicos para fumar foi um alento para a indústria do tabaco, que ainda tem forte mercado em países subdesenvolvidos da África e Ásia equatorial, onde a regulamentação do cigarro à moda antiga é menor.

Ao contrário do cigarro tradicional, visto pelos jovens como algo ultrapassado e feio, fumar os vapes (apelido aportuguesado do cigarro eletrônico ou vaper) é visto pela nova geração como uma atitude descolada.

Legalizar este dispositivo no Brasil seria, para a indústria do fumo, retomar espaço em um país com mais de 200 milhões de habitantes. Calcula-se que o potencial mercado consumidor, formado por jovens entre 18 e 28 anos, fique em torno de 25 milhões de pessoas.

Argumentos

No encontro de sexta-feira, a prefeita de Santa Cruz destacou que os cigarros eletrônicos, mesmo tendo sua comercialização, importação e propaganda proibidos pela Anvisa desde 2009, seguem sendo abertamente consumidos no País.

Esta parte da argumentação é muito parecida com a utilizada pelos defensores da legalização da maconha, que sempre foi ilegal, mas há quem defenda sua liberação para controlar o mercado, gerar empregos formais e cobrar impostos.

Nossa reportagem questionou, por meio da assessoria, se a prefeita de Santa Cruz é a favor ou contra a legalização da maconha, mas não houve resposta até o fechamento desta matéria.

Assim como outros convidados do encontro, Helena ancorou a maior parte da sua argumentação em aspectos econômicos.

“Existe uma visão distorcida de algumas pessoas e organizações, que não levam em conta a importância da produção do tabaco para a renda de trabalhadores da agricultura e das indústrias. Precisamos nos mobilizar para defender a cadeia produtiva do tabaco, pelo que ela representa para o desenvolvimento de toda a nossa região”, defendeu Helena Hermany.

Grave questão de saúde pública

No momento atual do debate proposto pela Anvisa, é muito provável que a prefeita de Santa Cruz esteja se referindo a uma “visão distorcida” de organizações na área da saúde. Pelos menos 10 entidades do tipo são contra a legalização dos vapes.

A Associação Médica Brasileira é uma delas. Na capa de seu site, há uma frase no topo dizendo: “Não se engane, cigarro eletrônico é cigarro”. Mais abaixo, a página alerta: “Atenção médicos:
é muito importante alertar seus pacientes sobre todos os malefícios provocados pelos cigarros eletrônicos. Essa é uma grave questão de saúde pública.” O portal também traz uma nota pública da entidade contra a legalização.

No Reino Unido, os cigarros eletrônicos foram permitidos com o argumento de que seriam a transição para fumantes do cigarro tradicional deixarem de fumar. Na prática nada disso ocorreu e, desde outubro de 2023, o governo local trabalha para restringir o uso destes dispositivos, após uma menina fumante asmática de 12 anos entrar em coma.

No dia 29 de janeiro, agências internacionais de notícias afirmaram que o Reino Unido vai banir vapes descartáveis após a alta do consumo entre os jovens. Governantes de lá estão preocupados com o aumento de quase nove vezes no número de jovens com menos de 18 anos que utilizaram os aparelhos nos últimos dois anos.

“Como qualquer pai ou professor sabe, uma das tendências mais preocupantes neste momento é o aumento do uso de vapes entre as crianças, e por isso devemos agir antes que se torne endêmico”, disse o primeiro-ministro Rishi Sunak.

Saúde não fez parte da reunião

Na última sexta-feira o Portal Significa enviou a seguinte pergunta para assessoria do governo de Santa Cruz: “Quanto aos aspectos de saúde, quais são os argumentos da prefeita para defender a liberação dos dispositivos eletrônicos para fumar?”. Também não houve resposta.

Nas manifestações, Helena Hermany pediu aos prefeitos presentes que disseminem em seus municípios a consulta pública da Anvisa. Venâncio Aires, que escapou de ter um médico presente no lobby (Jarbas da Rosa está de férias), ainda não disseminou a consulta pública.

Questionada duas vezes, por meio da assessoria de imprensa, se é a favor ou contra a liberação do cigarro eletrônico, a prefeita em exercício Izaura Landim não respondeu.

Em Santa Cruz do Sul, os cidadãos foram convidados a preencher um abaixo-assinado por escrito na recepção do Palacinho (sede do governo municipal), das 8h às 12h e das 13h às 17h. O governo de Venâncio Aires também não respondeu se vai fazer um abaixo-assinado do mesmo tipo para defender a legalização do polêmico dispositivo.

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