Centro Vocacional Tecnológico entra na manada dos “elefantes brancos”
📸 Gov. Venâncio Aires/arquivo
Após anos de construção, o prédio do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) da Proteína Animal, em linha Ponte Queimada, zona rural de Venâncio Aires, permanece sem utilização e foi classificado como um “elefante branco”, em reportagem publicada nessa quinta-feira (14) pelo portal Gaz.
A obra, iniciada em 2021, foi financiada por um programa federal que previa a construção, mobiliário e equipamentos do local, mas o projeto foi extinto antes de sua conclusão, deixando a estrutura inoperante e adicionando mais um exemplar para a manada dos “elefantes brancos” produzidos no Brasil.
Sem uso
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Marcos Hüttmann, explicou ao portal de Santa Cruz que, embora o prédio tenha sido concluído, os recursos para equipar os laboratórios nunca foram liberados. Não há previsão de novos investimentos federais para viabilizar a operação do local.
Atrasos
A construção enfrentou diversos contratempos, como atrasos nos pagamentos pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação à Invicta Construtora, responsável pela obra, o que encareceu o projeto. Inicialmente orçada em R$ 622 mil, a obra foi concluída com um custo total de R$ 733 mil – 17,84% acima do previsto.
O prédio conta com cerca de 312 metros quadrados de área construída, incluindo saguão, sala administrativa, dois banheiros, depósito, três laboratórios, calçamento e área de circulação.
O objetivo original era oferecer cursos e fomentar pesquisas relacionadas à proteína animal, abrangendo atividades como produção de leite, gado de corte, aves, suínos, peixes, ovinos e mel.
Sem recursos para equipar e manter o espaço, a prefeitura de Venâncio Aires avalia há quase um ano os possíveis usos para a estrutura, que permanece desocupada e sem previsão de operação.
Modelo de ficção
Esquerda ou direita, não importa, o modelo de política leva a lugar nenhum. Quando o governo federal (seja ele qual for) ou estadual (seja ele qual for) anunciam um projeto, ninguém pode contar 100% com o dinheiro na ponta.
Existe uma reserva fictícia da verba (dotação), mas não há certeza se, até o fim do projeto, o governo não vai bloquear o dinheiro para fechar as contas ou remanejá-lo para outra obra.
No mundo da fantasia das coisas que funcionam, este dinheiro já seria transferido imediatamente para a prefeitura executora assim que o projeto fosse aprovado e só seria devolvido à União ou ao Estado (com multa a apuração de responsabilidade) em caso de atraso ou falhas na obra.
Repeteco
O caso do CVT repete a péssima experiência do atraso relacionado à creche municipal agora denominada Vô Ismael (foto abaixo), no bairro Xangrilá, a maior de Venâncio Aires, que se transformou em um “elefante branco” por cerca de seis anos.
A obra, financiada pelo governo Dilma Rousseff (PT), deveria ter ficado pronta em 2017, mas, por contingenciamentos dos governos Michel Temer (hoje MDB) e Jair Bolsonaro (hoje PL), só ficou pronta em maio do ano passado, após a prefeitura ameaçar processo judicial e aportar recursos próprios. O custo final ficou acima dos R$ 3 milhões.
Até hoje a capacidade anunciada na época da construção, de 188 crianças, não foi alcançada, embora haja mais de 350 crianças na fila de espera por vagas em todo o Município, conforme relatório público atualizado na semana passada.
Novela sem capítulo final
E no âmbito dos recursos provenientes do governo do Estado, a novela ficou por conta do asfaltamento da estrada geral de Linha Sapé (foto abaixo), que começou em maio de 2019 e levou 36 meses a mais do que o previsto para ser concluído. Nesse tempo em que o “elefante branco” esteve estacionado na localidade de Sapé, o custo da obra saltou de R$ 6,579 milhões para R$ 9,771 milhões, alta de 48,5%.
O capítulo final desta novela, a inauguração, nunca foi ao ar. A prefeitura afirmou, em maio do ano passado – quando a estrada nova já era utilizada normalmente –, que o asfaltamento não seria inaugurado sem a presença do governador Eduardo Leite (PSDB), prevista para dias depois. Até hoje o mandatário estadual não apareceu.
Culpa nenhuma
Os coitados dos elefantes não têm culpa alguma da expressão depreciativa relacionada a eles no Brasil. Pelo contrário, os elefantes brancos, raros, são considerados um símbolo de boa sorte em algumas culturas budistas do sudeste asiático.
Ninguém sabe ao certo como a comparação surgiu por aqui, mas ela não faz sentido nem mesmo pela raridade, já que qualquer cidade média do Brasil tem pelo menos um “elefante branco” para chamar de seu.